Bancos lucraram com cortes de juros, mas enfrentam ‘efeitos Magnitsky’ e alta da inadimplência!

Nos últimos cinco ciclos de afrouxamento monetário no Brasil, os papéis do setor bancário valorizaram-se em três momentos antes dos cortes de juros e em todos após as decisões. Por RichDaily!

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Nayara Lima

9/8/20254 min read

Nos últimos anos, o setor bancário brasileiro viveu uma sequência de resultados expressivos, impulsionados pelo movimento de flexibilização monetária. A queda da taxa Selic trouxe alívio ao crédito, ampliou a demanda por financiamentos e ajudou a sustentar uma valorização relevante das ações de grandes instituições financeiras listadas em bolsa. No entanto, esse ciclo positivo convive agora com dois fatores que colocam pressão sobre o futuro: o risco jurídico internacional, representado pela aplicação da chamada Lei Magnitsky, e o aumento da inadimplência, especialmente em setores sensíveis da economia.

A análise de especialistas aponta que o setor financeiro brasileiro, historicamente resiliente, pode enfrentar um período de maior volatilidade, em que lucros recordes convivem com a necessidade de ajustes regulatórios e de estratégias mais cautelosas.

A trajetória recente: cortes de juros e valorização do setor

A cada ciclo de redução da Selic, o mercado acionário antecipou movimentos de valorização das ações bancárias. Desde 2016, cinco ciclos de cortes de juros resultaram em ganhos significativos para bancos como Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil.

Esse comportamento é explicado por dois fatores principais:

  1. Expansão do crédito: juros mais baixos reduzem o custo do dinheiro, estimulando empréstimos e financiamentos.

  2. Maior rentabilidade relativa: em um cenário de Selic elevada, investidores migram para a renda fixa. Com cortes, a renda variável — incluindo ações de bancos — volta a ser atrativa.

Entre 2023 e 2025, por exemplo, os papéis bancários chegaram a valorizar mais de 120%, acompanhando o alívio monetário promovido pelo Banco Central. Esse movimento foi reforçado pela sólida geração de caixa das instituições, que permitiu pagamento de dividendos generosos, aumentando a atratividade do setor.

O novo elemento jurídico: Lei Magnitsky e seus impactos

Se no campo econômico os bancos surfaram bons ventos, no campo jurídico e regulatório o cenário se tornou mais delicado. A aplicação, no Brasil, da chamada Lei Global Magnitsky — legislação dos Estados Unidos que prevê sanções contra indivíduos envolvidos em violações de direitos humanos e corrupção — gerou incertezas no mercado.

A medida, que atinge personalidades políticas e econômicas, trouxe impactos diretos sobre a rotina bancária. O caso de bloqueios de cartões internacionais e de monitoramento reforçado de operações financeiras envolvendo nomes na lista despertou atenção para um problema central: até que ponto instituições financeiras brasileiras devem se alinhar às sanções externas, sem que haja legislação equivalente aprovada internamente?

O Supremo Tribunal Federal (STF) foi acionado para discutir a validade da aplicação de uma lei estrangeira em território nacional. A decisão terá peso não apenas jurídico, mas também econômico, uma vez que bancos estão expostos à necessidade de equilibrar soberania legal brasileira com exigências de conformidade internacional.

Do ponto de vista de governança, especialistas apontam que os bancos tendem a adotar posturas mais conservadoras. O risco de sanções secundárias ou de bloqueio de operações em dólar, moeda central para transações globais, força instituições a seguir regras externas, ainda que isso gere debates internos sobre autonomia nacional.

A ameaça interna: inadimplência em alta

Embora a questão jurídica seja relevante, o principal desafio para os bancos brasileiros no curto prazo está no aumento da inadimplência. O setor agropecuário, responsável por grande fatia do crédito corporativo, tem registrado atrasos crescentes, em meio a dificuldades de safra, preços internacionais voláteis e custos elevados de produção.

Segundo dados recentes do Banco Central, a taxa de inadimplência no crédito rural ultrapassou a marca de 4%, atingindo o maior patamar desde 2017. Além disso, o crédito ao consumo, especialmente nas linhas de cartão e crédito pessoal, também mostra sinais de estresse, com impacto direto nas provisões para devedores duvidosos.

Essa elevação da inadimplência pressiona os resultados de instituições como Banco do Brasil, Bradesco e Santander, que registraram aumento significativo em suas despesas de provisão no primeiro semestre de 2025. Mesmo o Itaú, tradicionalmente mais eficiente em sua gestão de risco, anunciou reforços em provisões, antecipando um cenário mais desafiador no segundo semestre.

A encruzilhada dos bancos brasileiros

A combinação de benefícios do corte de juros com os desafios da inadimplência e das pressões regulatórias coloca os bancos em uma verdadeira encruzilhada estratégica.

  • Aspecto positivo: a manutenção de juros em queda deve seguir estimulando a demanda por crédito, sustentando margens de intermediação financeira e fortalecendo lucros.

  • Aspecto negativo: o aumento da inadimplência tende a corroer parte desses ganhos, enquanto a insegurança jurídica decorrente da aplicação da Lei Magnitsky pode impor restrições adicionais às operações internacionais.

Nesse contexto, analistas do mercado destacam que as instituições precisarão intensificar políticas de gestão de risco, diversificação de carteiras e reforço de práticas de conformidade. O equilíbrio entre rentabilidade e prudência será o fator determinante para a performance do setor nos próximos trimestres.

Perspectivas de mercado e recomendações

Para investidores, o setor bancário continua atraente pela robustez dos balanços, histórico de dividendos e posição estratégica na economia. Entretanto, a recomendação é de cautela.

  1. Ações de bancos de varejo como Bradesco e Santander podem sofrer mais com a alta da inadimplência de pessoas físicas.

  2. Banco do Brasil, apesar de mostrar solidez, está mais exposto ao agronegócio, setor que apresenta maior risco neste momento.

  3. Itaú Unibanco, por sua vez, aparece como a opção mais defensiva, com histórico consistente de gestão de riscos e maior resiliência frente a choques.

Investidores institucionais e pessoas físicas devem monitorar atentamente a evolução da taxa de inadimplência, bem como os desdobramentos jurídicos da Lei Magnitsky no Brasil.

Conclusão

O setor bancário brasileiro vive uma fase de contrastes. De um lado, colhe os frutos dos cortes de juros e da força de suas operações; de outro, encara os desafios de um cenário global mais complexo e de pressões internas como a inadimplência.

Para o RichDaily, a mensagem central é clara: bancos continuam sendo pilares fundamentais da economia e alternativas sólidas de investimento, mas a leitura dos próximos meses exigirá atenção redobrada. Entre a oportunidade e o risco, caberá a cada instituição ajustar suas estratégias — e a cada investidor decidir o quanto está disposto a navegar em um setor que, mais uma vez, mostra sua capacidade de resistir, se adaptar e, possivelmente, crescer.